terça-feira, 18 de agosto de 2009

Longe é um lugar que existe

I.
Amo a vida
amo o ar
amo o frio na barriga
ansiedade calma
que no fim é coisa boa

Amo os planos certos
amo a certeza
certeza até onde alcanço
pois no fim não depende de mim

Amo esses impulsos
essa vontade de criar
ultrapassando antigas moléstias
amo essa vontade de voar

II.
Tudo tem dois lados
duas facetas
duas histórias
duas vidas que correm paralelas

A vida é assim
aprender a conviver
aprender a entender certas coisas inexplicáveis
viver e compreender

Buscar meios de ser feliz
buscar o que lá no fundo diz
lá do fundo brota
e não dá mais para esconder

Quero viver esses dois lados
quero estar perto assim
conhecer todos os lugares
especialmente de onde vim

Quero conhecer por dentro
o que ainda não pariu
o que ficou em gestação
o que nunca deu tempo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Vive

Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Caeiro/ Fernando Pessoa