quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Água com açúcar

Uma cadeira de balanço movimenta-se gentilmente ao sabor da brisa que corta a varanda.
O jornal aguarda ser recolhido no batente da porta, deixando algumas folhas remexerem-se.
As cartas acumulam-se debaixo do tapete. As notícias estão ali, frescas, mas não serão lidas.
A madeira do chão está corroída, com frestas, afastadas umas das outras.
Uma abelha suga a mesa açucarada pelo suco derramado.
A poeira acumula-se no canto, formando um pequeno redemoinho de cabelos e sujeira.
O capim irregular acaricia a mureta em movimentos esparçados.
A porta entreaberta manifesta-se, batendo hora ou outra impulsionada pelo vento.
As cores perdem saturação e aproximam-se de um preto e branco acizentado.
Uma goteira na ponta do telhado, poça de água.
Um miado de dentro.
Um pio de fora.
Um ranger de baixo.
Um estrondo de cima.
Onde vivem?

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Peculiaridades

A vida pode ser tão divertida.

fazer bonequinho com a mão e o ponto escuro do teto
ver rostos nas manchas da madeira do armário
imaginar formas para as dobras do lençol
conversar consigo mesma em diferentes línguas
pegar as coisas com o dedo do pé
ter um cachorro imaginário
olhar o mundo de cabeça para baixo
fazer careta no espelho
ver filmes com legenda em coreano
imaginar-se num filme
conversar com as plantas
pegar chuva na praia
ter sono nos transportes públicos
olhar-se de cima