terça-feira, 29 de junho de 2010

Édificil

A moça torta na janela esguia-se por espiar
Era tonta, era feia
era um bife de panela
refrito na manhã de segunda-feira

O rapaz do andar de cima ria-se por só rir
Era jovem, era alto
era um poeta do acaso
escrevia seus poemas sentado em seu vaso

O porteiro que varria o prédio esqueceu-se do remédio
Era velho, era cansado
era antigo no pedaço
fazia bodas no trabalho

A menininha chupava bala esperando o elevador
Era baixa, era irritante
era meio metro de gente
estalava a língua e cantava desafinado

Nas escadas, o encontro
Nariz torto, olhar pra baixo
contas vencidas, pingos de roupa lavada
cinzas de cigarro, livro de reclamações

Onde o síndico não tem voz
mas é chamado a todo instante
Onde as paredes escutam tudo
um trabalho desgastante

Vende-se, aluga-se,
um prato cheio de histórias,
que escorrem pelos antigos encanamentos
desembocam onde tudo sempre acaba

5 comentários:

  1. "desembocam onde tudo sempre acaba"

    tem um livro que cria um lugar para onde vão todas as coisas. Tudo iria para lá. É a última correnteza do mar, na última ilha do mundo, onde todas as coisas dão. É bem fantástico.

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  2. rô! tempos sem te visitar!
    tá tudo fabuloso aqui! Não sei se está com ares novos a muito tempo, mas tá bonito à beça.

    (Poesia impecável, essa sua.)

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  3. rô!
    Amelie Poulain aos 3 anos rs
    http://tvuol.uol.com.br/#view/id=contadora-de-historias-0402993666DC9133A6/mediaId=5327363/date=2010-07-01&&list/type=editor/

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